domingo, 29 de agosto de 2010

Onde vivem os monstros



"Onde vivem os mostros", adaptação do clássico norte-americano de Maurice Sendak e adaptado por Spike Jonze de forma sutil e delicada, da trilha sonora à ambientação, é um filme infantil, mas não é um filme para crianças.

Como não sou um crítica de cinema e também não li o livro, pretendo deixar registrado apenas minha impressões sobre os filme e, no caso, este me marcou de forma profunda. Não tive uma infância totalmente infeliz, pelo contrário, mas por ser excessivamente tímida sempre sofri com a solidão, a melancólia e, assim como Max, vivia colocando em prova minha amabilidade e bondade. Tinha explosões de raiva e ciúme, pedia por atenção e certa vez me joguei da janela porque minha irmã mais velha não queria brincar comigo. Vivia frustrada e por isso acabei por me fechar em um mundo paralelo onde a criatividade reinava, mas mesmo assim o meu mundo paralelo também era solitário e melancólico.

Os monstros encontrados por Max na ilha sofrem assim como ele e cada um representa uma parte de sua personalidade ainda em formação, pois obviamente fazem parte dele mesmo e de sua imaginação. Inclusive, se não me engano, no início do filme quando Max é mostrado em seu quarto, existe um objeto em sua mesa de cabeceira idêntico às cabanas onde os monstros viviam. Além disso o clima de melancolia profunda versus brincadeiras exageradas não é exatamente a forma como Max vive sua vida real?

A relação de Carol e KW retrata a própria relação de Max com sua família, pois ele sente que sua mãe e irmã estão indo embora e que os novos amigos tem maior importância em suas vidas do que ele, por isso age de forma descontrolada e raivosa, mesmo que tudo o que ele precise seja saber que elas vão ficar ao seu lado e dar a atenção de que ele precisa.

Por todos os motivos relatados o filme "Onde vivem os monstros" lembrou minha infância de uma forma que eu não saberia reconhecer enquanto ainda criança e por isso digo que não se trata de um filme infantil, mas não para crianças. Lembrou de minha identificação imediata com Anne Frank quando li seu diário escrito aos 11 anos, pois ela sempre prometia tentar ser melhor para sua irmã e para sua mãe, mas no fim acabava fazer tudo errado e sofrendo com a culpa e a acusação dos outros.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A origem (Inception)

Direção: Christopher Nolan
Elenco: Leonardo DiCaprio, Ken Watanabe, Joseph Gordon-Levitt, Marion Cottilard, Ellen Page, Tom Hardy, Cillian Murphy, Michael Caine, Dileep Rao.
Prêmios: nenhum (ainda)

É muito complicado assistir a um filme previamente categorizado como “genial”, “filme do ano” ou até “um dos melhores filmes de todos os tempos”. Exatamente por isso evitei ler resenhas e críticas que pudessem influenciar a minha compreensão de “A origem”, concentrando minha leitura sobre o filme apenas sobre a parte técnica, ou seja, entrei no cinema sabendo que qualquer reação, boa ou má, seria mérito apenas de Christopher Nolan, inclusive no que diz respeito à sua escalação para a equipe técnica e elenco.

“A origem” é o projeto da vida de Christopher Nolan que só foi viabilizado em função de seu sucesso na direção da nova franquia do Batman. Ao mencionar de “O cavaleiro das trevas” me recordo de que seu brilhantismo fora ofuscado pela morte de Heath Leadger, embora isso tenha elevado consideravelmente o sucesso do filme. Antes de mais nada, arrisco dizer que talvez Hollywood tenha encontrado finalmente o seu tão sonhado “gênio” desta geração, titulo concedido erroneamente a diversos diretores medíocres e/ou irregulares.

Voltando ao filme em questão, o Fábio Vanzo e eu fomos ao cinema confiantes, porém receosos em relação às críticas tão efusivas desde o lançamento do filme nos Estados Unidos. A história é aquela que quase todos devem conhecer: Dom Cobb é uma espécie de espião dos sonhos, nos dois sentidos já que quem não sonharia com um espião com a cara, a voz e o testa franzidinha do Leonardo DiCaprio (esse trecho será censurado pelo co-autor do blog certamente), além de espionar entrando na mente do espionado por meio dos sonhos. No início do filme já nos deparamos com a razão de o filme se tornar confuso para a maioria das pessoas e torna possível que o filme tenha tantas formas de entendimento no final, os tais níveis dentro do sonho. A questão é: os tais espiões conseguem invadir até um sonho dentro de um sonho dentro de um sonho. Para isso é necessário um esquema meio complexo que fica claro com muita atenção, o que não é difícil, já que a o filme prende totalmente a atenção do espectador, tanto que eu só lembrei tinha uma Coca-Cola a tomar lá pela seqüência final.

A história do filme é a seguinte, Saito, um poderoso empresário interpretado pelo Ken Watanabe faz uma proposta a Cobb para que ele realize uma “inception”, que é a inserção de uma idéia na mente de alguém através de um sonho. Por motivos pessoais Cobb aceita a proposta sob protestos de seu parceiro Arthur.

Bom, pausa para falar sobre Arthur e o restante da equipe formada para a missão. Arthur foi interpretado por Joseph Gordon-Levitt, já que James Franco, inicialmente confirmado para o papel precisou abandonar o projeto. Joseph Gordon-Levitt ficou conhecido pelo papel do nerd que contrata o (não é ele quem contrata, ele só se beneficia da contratação) Heath Ledger para conquistar a irmã durona de sua pretensa namorada em “10 coisas que eu odeio em você” e entrou na moda ao interpretar o personagem central em “500 dias com ela”. O currículo acrescentou muito ao papel de Arthur porque, no meu entendimento, o espectador já tem uma empatia natural com ele e isso é realmente esperado. Fiel parceiro de Cobb, Arthur fez com que eu me sentisse completamente segura em relação ao cumprimento da missão, sempre calmo, sendo inclusive o responsável pelas cenas mais leves, o que demonstra sua segurança em relação ao trabalho. Também é Arthur o responsável por explicar o esquema à nova arquiteta, Ariadne (Ellen Page) e conseqüentemente ao espectador.

Como a mais nova em idade e experiência da equipe, Ariadne se mantém atenda a todos os detalhes da trama, inclusive é por dela que passamos a enxergar os reais problemas enfrentados por Cobb em relação a Mal (Marion Cottilard), aos filhos, aos sonhos e tudo mais. Um detalhe importante é que no momento dos “chutes” (chute = técnica utilizada para acordar os sonhadores) finais é como se você se sentisse na pele dela, já que, assim como nós, ela passa pela primeira experiência.

Os outros membros da equipe são Eames (Tom Hardy), o falsificador, e Yusuf (Dileep Rao), o químico responsável por criar os sedativos para a missão (Nota: se alguém tiver o telefone deles me passa) e o próprio Saito.

Se o roteiro por si só já é brilhante, imaginem isso com um elenco talentoso, direção, trilha sonora, montagem e fotografia impecáveis. É o tipo de filme pelo qual nós, amantes do cinema, esperamos por muito tempo para ver porque se tornam mais raros com o passar do tempo. Cada detalhe tem sua importância, nada é feito por acaso e, após o filme, você passa horas lembrando de cada detalhe e achando o filme melhor ainda por isso.

O final... bom, o final é um caso a parte, porque na minha opinião ele foi feito intencionalmente para confundir, mas é fácil saber que ele não é real, mas isso também é intencional.

Certamente veremos o filme novamente e escreveremos mais sobre ele, afinal já é o filme do ano e não tenho certeza se tão cedo vamos ter uma novidade cinematográfica tão intrigante.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A Condessa De Sangue (Eslováquia - 2008)

Título original: Bathory
Direção: Juraj Jakubisko
Elenco: ninguém digno de nota

Estranho que, até hoje, uma história tão interessante como a de Erzsébet Báthory só tenha virado filme uma vez (o obscuro A Condessa Drácula – EUA, 1971) e, mais estranho ainda, que neste final de década tenham surgido dois filmes sobre o mesmo tema: o alemão "A Condessa" (Alemanha – 2009), refilmagem do filme de 1971, com Julie Delpy e Daniel Brühl (a Carolina Molina viu, precisa postá-lo aqui), e este A Condessa De Sangue.

Nessa produção da TV eslovaca (na época da condessa o império húngaro se estendia por vários países, e ela ficava onde hoje é a Eslováquia), Erzsébet, famosa por supostamente ter matado várias virgens, a mando de uma bruxa, e se banhar no sangue delas (o que lhe valeu a alcunha de vampira até hoje), a fim de se manter sempre jovem, é mostrada como uma mulher forte, decidida, impiedosa no meio de homens brutos e cruéis em guerra entre si e contra os mouros na Europa oriental do século 17.

Apesar do ritmo lento, a história envolve não só pelo tema, mas pela beleza das imagens (a fotografia é belíssima, cheia de tons avermelhados, por motivos óbvios) e pela curiosidade de, seguindo a linha de historiadores contemporâneos, questionar se sua condenação não passou de uma armação dos rivais da nobreza para tirá-la do caminho e unir os húngaros com os habsburgos da Alemanha.

O único senão, aliás um grande SENÃO, fica por conta de um romance dela com o pintor Caravaggio, então um jovem. Nunca ouvi falar disso na biografia de nenhum dos dois, e não achei nada sobre isso mesmo após pesquisar bastante.
Mesmo assim vale a pena conferir.

PS: Já no Black metal o tema já foi amplamente explorado: além dos pioneiro Venom (Inglaterra) com “Countess Bathory, do sueco Bathory, que também fez uma música chamada “Woman Of Dark Desires”, também os húngaros do Tormentor (depois regravados pelo sueco Dissection) lançaram “Elizabeth Bathori” e os ingleses do Cradle Of Filth, famosos pelas temáticas vampirescas, lançaram um disco inteiro sobre ela, chamado “Cruelty And The Beast”.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Re-Animator (por Carolina)

Re-Animator (EUA - 1985)
Gênero: terror
Direção: Stuart Gordon
Elenco: ninguém digno de menção
Prêmios: tá de brincadeira, né?
Mais: O filme tem duas sequências "Bride of Re-Animator" (1991) e" Beyond Re-Animator" (2003)

Assim como a infância do Fábio Vanzo, a minha foi repleta de promoções "pague 5, leve 6 catálogos" e, é claro, levei muita coisa boa e muito mais bizarrices oitentistas. E o cinema oitentista, sabe como é, né? As exceções são clássicos, era 8 ou 80 mesmo.

Quando o Fábio apareceu com o "Re-Animator" aqui em casa, eu não lembrava se tinha visto e achava que fosse algo do tipo "Casa do Espanto", mas logo no início me surpreendi. Lovecraft, introdução intrigante e música do Psicose. Até aí tudo bem, mas o problema é que tenho total pavor de mortos. Eu sei que é fácil pensar que nos outros filmes todo mundo morre e fica por isso mesmo, mas tenho medo é de corpos, zumbis, necrotério, sangue, cemitérios, vísceras, etc.

Mesmo assim o filme estava bom e eu continuei vendo, o que foi me causando taquicardia, enjôo, angústia...

Enfim, tente achari os sempre presentes erros de continuidade nos filmes de terror dos 1980s, mas não encontrei nada. Os atores são bem razoáveis e tão canastrões como o papel exige. O próprio filme não se leva a sério, é a beleza do humor negro. Eu fui completamente tomada pela história e, mesmo que o fim pareça óbvio, faz todo o sentido. Superou e muito as expectativas.

Ah, sobre os efeitos, considerei que, para a época em que foi feito, estavam bem elaborados, com exceção do gato zumbi, mas também admito que nunca vi um gato zumbi e, pensando bem, talvez um gato zumbi seja parecido com aquilo.



E quando o filme acabou eu disse "Fábio te odeio, odiei o filme, me dá um calmante", quando na verdade eu tava bem longe de odiar o filme, mas não é para menininhas como eu: também tem uma cena em que uma cabeça-zumbi tenta fazer sexo oral na garota. Considerem.

PS do Fábio Vanzo: tem um gato zumbi no "Cemitério Maldito" (EUA - 1989), adaptação de livro do Stephen King.

Sherlock Holmes (EUA – 2009) - Versão da Carolina

Sim, eu dormi no filme porque realmente achei que estava vendo "Snatch", mas tinha algo mais. O problema é que esse algo mais deu sono. Então foi isso. Dormi entre 56' e acordei 20 minutos antes do final. Sabe do melhor (ou pior)? Entendi tudo.

Falaram tanto que a decepçao foi maior. Foi-se o meu tempo juvenil em que qualquer filme com o Robert Downey Jr. valeria a pena.

Nota: fraco

Além das dicas de leitura do Fábio Vanzo, deixo uma dica cinematográfica mesmo: O Jovem Sherlock Holmes (muito Sessão da Tarde, mas muito bom!).

Sherlock Holmes (EUA – 2009)

Direção: Guy Ritchie
Elenco: Robert Downey Jr. e Jude Law
Prêmios: nenhum que eu saiba

Decepção é a palavra. Guy Ritchie é diretor de um filme só, o genial Snatch. Jogos, Trapaças E Dois Canos Fumegantes é um “ensaio” desse, Rock N’ Rolla é chatíssimo, e esse Sherlock Holmes é lamentável.

Roteiro bobo (sem spoilers, mas qualquer um que conheça minimamente Sherlock sabe das “armações” do vilão e do próprio roteiro), Lude Law inexpressivo e subaproveitado como Watson e Holmes encarnado num Robert Downey Jr. cada vez mais no papel de si mesmo, desde sua ressurreição no primeiro Homem De Ferro: fanfarrão metido e afetado, tomando todas e criando encrenca.

Quanto ao estilo, a repetição de um recurso de em Snatch ficou bem legal – câmera lenta + aceleração + câmera lenta – é explorado à exaustão, dando raiva até. O final é previsível, tudo que não se espera que uma história sherlockiana.

Sem falar que o equilíbrio ação / investigação é tosco, com muito tempo de chatice entremeado por seqüências à Indiana Jones.

Leia O Cão Dos Baskervilles, Um Estudo Em Vermelho, etc. e passe horas mais agradáveis.

(A Carolina Molina dormiu durante o filme.)

Re-Animator (EUA - 1985)

Gênero: terror
Direção: Stuart Gordon
Elenco: ninguém digno de menção
Prêmios: tá de brincadeira, né?

Meu primeiro videocassete foi um National (hoje Panasonic) G9 usado, em 1991, por aí. Nesse ano e no seguinte foi quando mais vi filmes na vida. Ainda vivíamos o boom do VHS, só no meu mísero bairro havia cinco (!) locadoras, mais umas três no bairro vizinho, e eu possuía ficha em todas. Meus pais e meu irmão mais velho sempre trabalharam, de modo que eu passava as férias sozinho em casa.

A solução? Pegar aquelas promoções de "leve cinco 'catálogos' e fique seis dias com eles". Ah, eu fazia a festa. Vi todos os James Bond, todos os filmes de terror imagináveis... e entre eles, lá estava este Re-Animator.

Na minha memória afetiva era um filme tosqueira de zumbis, com sanguinolência, peitinhos e humor negro (tudo de praxe à época) que se destacou pela cena em que uma cabeça decepada faz sexo oral na vítima. O resto fui lembrando semana passada, conforme ia revendo.

E não é que o filme continua legal? A história é simples, porém original: um jovem cientista maluco resolve levar adiante as idéias de seu antigo professor, usando um soro verde fluorescente que ultrapassa a barreira dos 12min sem oxigênio; óvio que as coisas saem do controle e logo os zumbas estão barbarizando geral no necrotério do hospital da universidade onde os protagonistas estudam.

Ignore as óbvias falhas do roteiro, coisa típica de filme B, e se divirta: os efeitos e a maquiagem não envelheceram, continuam legais, o humor negro continua até mais chocante, dados os tempos politicamente incorretos, e os personagens, ao contrário das produções de terror com jovens da época, têm profundidade, não são meros babacas esperando serem mortos. Você torce por eles.

Enfim uma ótima diversão bizarra. Só não recomendo ver com a namorada. Vi com a Carolina Molina e ela odiou.

Curiosidade: baseado, dizem, em uma história de HP Lovecraft, mas não sei qual.