segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Corra Que A Polícia Vem Aí (EUA – 1988)



Título original: The Naked Gun! From the Files of Police Squad!
Elenco: Leslie Nielsen, Priscila Presley, OJ Simpson, George Kennedy, Ricardo Montalban, Ed Williams

A trilogia toda é ótima, mas este primeiro é a melhor comédia de todos os tempos. Por quê? Ué, filme pornô é pra você gozar, terror é pra você ter medo, etc. e comédia é pra rir. E você nunca vai rir como nesse impagável filme. Com o elenco impagável composto por Leslie Nielsen, Priscila Presley, OJ Simpson, Ricardo Montalban e uma histórias legal recheada de piadas por todos os lados, as quais você não pega na totalidade nem vendo vinte vezes (coisas de David Zucker), é uma série absolutamente genial. Dá pena dos American Pie da vida.

A Fita Branca (Alemanha – 2009)



Título original: Dass Weisse Band
Direção: Michael Haneke
Premiações: Globo de Ouro e Palma de Ouro

Toda a imprensa especializada ou palpiteira comentou sobre a ótima fotografia em preto-e-branco estourada e as atuações naturalíssimas dos autores. Porém, ainda que o autor negue, o filme é uma parábola sobre como a rígida estrutura patriarcal da Alemanha do início do século passado levou-a ao fascismo. Temos pais violentos, abusadores, crimes insolúveis, castigos físicos, repreensões verbais e toda sorte de repressão. O problema é que, em filmes assim, alegóricos, uma vez entendida a alegoria (que, no caso, é bem óbvia e repetitiva), tudo fica enfadonho, cansativo. E, no caso, sequer os tais crimes do vilarejo são resolvidos. Filme chato, passe longe.

domingo, 26 de setembro de 2010

Capitalismo: Uma História De Amor (EUA – 2009)




Título original: Capitalism - A Love Story
Direção: Michael Moore

Michael Moore não faz cinema. Não faz documentários. Faz peças de propaganda esquerdistas, quase anarquistas. Isso é fato, ele nunca negou isso. Seu mérito está no humor cáustico e no deslumbrante show de edição. Mas tem hora que essa coisa monotemática cansa, né. Roger & Eu, os programas The Big One e The Awful Truth, a obra-prima Tiros Em Columbine, o show de imagens de Fahrenheit 11/9, o megadeprê Sicko... mas tem hora que a “piada” perde a graça. E este Capitalismo: uma História De Amor é muito fraco. Nada de grandes sacadas, de cenas em que você jura que ele vai apanhar mais que o Ivo Holanda ou o Repórter Vesgo, nada de sarcasmo corrosivo. Só uma ladainha conta o capitalismo que, embora justa e embasada, e cansativa e por demais repetitiva pra quem já viu os outros filmes e já leu os livros dele (sim, fiz tudo isso). O capitalismo é mau, filho-da-puta, cruel, as empresas exploram os empregados, fazem seguros de vida em nome dos operário sem eles saberem, pra receer a grana, lugare como a cidade-natal de Moore, Flint (Michigan), baseadas em empresas (no caso, a GM), são abanonadas às moscas, pessoas são despejadas enquanto os lucros na bolsa crescem vertiginosamente, etc. Se você não conhece nada dele, passe longe. Leia Stupid White Men e Cara, Cadê Meu País e veja Roger & Eu, Tiros Em Columbine e Sicko, só para ver que o Primeiro Mundo é tão sórdido e cruel quanto o Terceiro. Mas este filme aqui é cansativo, óbvio e dispensável.

sábado, 18 de setembro de 2010

Vicky Cristina Barcelona (2008)


Elenco: Javier Bardem, Scarlett Johansson, Rebecca Hall, Penélope Cruz, Patricia Clarkson, Kevin Dunn e Chris Messina.
Direção: Woody Allen

"Vicky Cristina Barcelona" é o filme mais Almodóvar do Woody Allen, não só por contar em seu elenco com Penélope Cruz, ou por se passar na Espanha, mas a narrativa, a montagem, os diálogos e tudo mais lembra muito o estilo de Almodóvar.

Como o título sugere que a trama tem foco na viagem das amigas Vicky e Cristina à Barcelona. Vick, racional, noiva de um executivo em Nova York, vai à Barcelona para estudar a cultura catalã, enquanto Cristina, instável e aventureira, a acompanha aproveitando a oportunidade para prosseguir com sua eterna busca por um amor arrebatador ou uma vocação artistica. Quando o pintor Juan Antonio aparece na vida das duas, Cristina pensa que enfim pode ter encontrado o tipo de relação que buscava, porém o acaso permite que Vicky também se apaixone por Juan Antonio, mesmo que isso vá contra tudo o que ela acredita.

Por saber que Vicky é noiva e tem outros planos, Juan Antonio deixa sua rápida história com Vicky para trás e procura Cristina que rapidamente muda-se para sua casa. Quando Cristina está extase pelo relacionamento com Juan Antonio e Vicky está neurotica por não acreditar em mais nada do que planejara para sua vida, reaparece Maria Elena, a ex-mulher de Juan Antonio.

Maria Elena e Juan Antonio representam o casal mais passional a qual se pode ter notícias na história do cinema, afinal o casamento terminou quando ela o esfaqueou por olhar para outra mulher. Os dois são artistas, mas Maria Elena jura que Juan Antonio copiou seu estilo e que ela ensinou a ele tudo o que ele sabe, pois era considera um gênio na escola de arte.

Penelópe Cruz, como Maria Elena, incendeia o filme com sua aparição e não é a toa que o papel de Maria Elena lhe rendeu um Oscar. A inexpressiva Scarlett Johansson perde até suas mais famosas caracteristicas, a sensualidade e a beleza, perto de Penélope Cruz.

Maria Elena reaparece quando tenta o suícido, só para começo de conversa. No calor de suas discussões esquece o inglês e desata a falar em espanhol, Juan Antonio sempre a repreende dizendo que naquela casa só se fala inglês, pois Cristina não fala espanhol, aliás Maria Elena não deixa de desdenhar o fato de Cristina ter estudado chinês por gostar da sonoridade. Ao descobrir a paixão de Cristina por fotografia, Maria Elena decide ajudá-la a encontrar sua vocação e então o triangulo amoro está formado. Embora Cristina sinta ciúmes pela evidente ligação entre Juan Antonio e Maria Elena, sente-se realizada por fazer parte daquela relação, porém não por muito tempo.

O evidente entrosamento de Penépe Cruz e Javier Barden não fica só no reconhecido talento ou na expressividade dos personagens, afinal graças a este filme os dois estão casados e esperando o primeiro filho. Rebecca Hall também se destaca como Vicky, sendo evidentemente um alter-ego de Woody Allen no cenário e finalizando a bizarra trama como quem diz "isso não é o mundo real, voltemos à América."

sábado, 11 de setembro de 2010

Sociedade dos Poetas Mortos (1989)

Título Original: Dead Poets Society
Direção: Peter Weir
Elenco: Robin Williams, Robert Sean Leonard, Ethan Hawke, Josh Charles, Gale Hansen.
Prêmios: Muitos, entre eles o Oscar de melhor roteiro.



IMPORTANTE: Contém SPOILERS, aliás o texto todo é um SPOILER
Parece que foi ontem, mas em 1990/91 todo mundo só falava de 'Sociedade dos Poetas Mortos'. Eu era criança e demorei um pouco para ver, mas lembro exatamente do dia em que minha prima Elisa chegou em casa falando do filme. A história do professor de literatura que, por meio de aulas fora do padrão de um rígido colégio interno na década de 1950, inspira os alunos a amar poesia e agir de acordo com seus desejos e sua inspirações conquistou o mundo. Como era de se esperar pouco tempo depois o filme se tornou um dos meus preferidos, mas tem uma coisa que eu nunca entendi: Porque o Neil se suicida no final?

Durante o filme todo ele 'encarna' o espirito do 'poeta morto' e os conceitos sobre ideais, vida e eternidade, mas no fim das contas dá um tiro na cabeça só porque o pai não quer que ele seja ator. Definitivamente não faz o menor sentido. E o que o Sr. Keating tem a ver com isso? Dando um tiro na cabeça ele estaria tornando sua vida extraordinária? Aproveitando o dia? Eu gosto é do Nuanda!!!


Charlie Dalton ou Nuwanda
Deixando isso de lado, o filme ainda me inspira e tê-lo assistido aproximadamente 78 vezes me faz uma pessoa melhor e mais feliz... talvez apenas melhor. Hoje tudo parece até meio clichê, mas há vinte anos não era e é um grande mérito do filme nos desafiar a fazer da vida algo mais, digamos, inspirador, mesmo que sejamos todos fracos e falhos.

Carpe Diem!

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Segunda Chance para o Amor (EUA - 2009)


Título Original: Purple Violets
Direção: Edward Burnes
Elenco: Selma Blair, Patrick Wilson, Edward Burns, Debra Messing.

Aluguei "Segunda chance para o amor” sem saber do que se tratava, porque procurava uma comédia romântica para um dia em que precisava apenas me distrair ou chorar, sem grandes pretensões.

Por sorte tive uma bela surpresa e descobri um filme realmente encantador, não podendo ser rotulado como romance, drama ou comédia e sim um filme que retrata pessoas, vidas e relacionamentos de forma real. O que mais me surpreendeu foi a semelhança extrema entre esta que vos fala e a protagonista do filme, Patti (Selma Blair). A forma como as coisas aconteceram em sua vida fazem com que ela viva apenas por estar ali e mesmo sabendo que poderia haver algo maior para alguém como ela não sente-se capaz de sair do lugar e viver a vida de outra forma.

Em determinada cena, Patti desiste do amor da sua vida por não ver outra forma de redescobrir quem é ela mesma e sair do personagem que interpretou durante anos de um casamento frustrado, se mostrando tão confusa como apenas um personagem real poderia ser.

Vinícius (Brasil - 2005)



Direção: Miguel Faria Jr.

Independentemente de as canções e os poemas serem de qualidade indiscutível [ainda que eu não goste de poema declamado (as poesias declamadas 'tavam tão chatas que os próprios produtores desencanaram e, em certa parte do filme, simplesmente desaparecem), e a maioria das músicas é interpretada por ilustres desconhecidos], acho que falta um pouco de ritmo... tá certo que bossa-nova é algo já meio sem ritmo, e a época em que a maioria das história se passa também não era nenhum primor de acontecimentos velozes. Mas, ainda assim, achei o filme cansativo, com uma história legal aqui e ali (e o final é genial).

Sem falar que, ideologicamente falando, o filme é bastante discutível. Afinal, é o tempo todo aquele papo de celebração dos amores, de paixão pela vida, de curtição, boemia. Tá, é tudo muito lindo, mas o cara era rico, vinha de família abastada, e ainda descolou um emprego de diplomata. Assim é fácil, né.

Sem falar que ele trocava de mulher que nem de cueca, abandonava as esposas, deixava faltar até comida em casa, enquanto torrava a grana em putaria e cachaça. Não me parece exemplo de nada, a não ser de um pré-Cazuza, um pré-Raul, da estirpe de rebeldes sem causa, cada um à sua maneira.

Niilismo-hedonismo (dá pra conciliar isso?) com o bolso cheio de dólar é fácil. E os amigos ainda contam tudo como se fosse glorioso e exemplar. Mas as pistas para o fiasco estão nos depoimentos ressentidos das filhas, vale prestar atenção.

Há também parentesco com Chico Buarque, sabem? Esse negócio de playboy metido a malandro, que nunca subiu o morro de verdade. Por mais que a obra fique boa, soa caricata, como personagens inventados nos quais eles mesmos acreditaram. Essa negação superficial das raízes aristocráticas (não vai trampar, fica comendo a graninha, mas posando de outsider) é tão ingênua...

Em contraponto, há o exemplo do Caetano, que aparece no filme. Vejam só: ele nunca escondeu que é culto, até elitista, que veio de boa família, tem um bom background cultural, etc.

Mas vale dar uma conferida, até porque tem Chico, Edu Lobo, Caê, Gil, Toquinho.

Sem Destino (EUA - 1969)



Título original: Easy Rider
Direção: Denis Hopper
Elenco: Denis Hopper, Peter Fonda, Jack Nicholson
Prêmios: Melhor Diretor Estreante em Cannes


Não vou me alongar muito, pois é só um comentário cinéfilo, e não uma análise sociológica. É só uma introdução para evitar possíveis visões anacrônicas sobre o filme.

Final da década de 1960. Contracultura, protestos políticos, sexo + drogas + rock, etc. Hoje isso pode parecer vazio, distante; afinal a industria cultural (Theodor Adorno falou, Theodor Adorno avisou), de lá pra cá, vem absorvendo tudo que surge mais ou menos espontaneamente, processando e devolvendo como produto de massa, de forma pasteurizada.

Portanto deve-se contextualizar o filme ao vê-lo; para quem não está acostumado aos filmes dessa época, o paradoxo entre realismo extremo e delírios lisérgicos pode parecer monótono ou banal.

Vamos ao filme: Peter Fonda e Denis Hopper compram cocaína de um mexicano (com direito a um rápido “teco”, revendem pelo triplo do preço para um americano e, com o dinheiro, trocam as motos velhas por duas Harley-Davidson e saem sem rumo pela estrada. Sim, e tudo isso antes de aparecerem os créditos! Cocaína, motos, tráfico... Peter Fonda joga o relógio no chão e eles saem pela estrada. Começa a tocar Born To Be Wild, do Steppenwolf, e você lembra de como a música era legal antes de encher o saco por causas das bandas cover de rock clássico.

O filme corre lentamente, tão sem destino quanto o título em português do filme. Entre belas imagens estradeiras e canções de Hendrix, Dylan e Byrds, os dois motoqueiros cruzam cidades e mais cidades em busca de liberdade. Eles cheiram, fumam, trepam, divagam, conhecem comunidades hippies, bebem.

Sempre à margem da sociedade, que lhes nega abrigo, refeições, que os maltrata e ofende. A liberdade é ofensiva, como diz Jack Nicholson, em ótima aparição como um advogado que larga tudo para se juntar aos viajantes. As pessoas não gostam de ver seus semelhantes livres. Não há lugar para isso no mundo. Não havia e não há. Haverá um dia?

Como bom filme da época, é tudo seco, duro, na veia. Não faz apologia a nada, nem condena qualquer comportamento. Simplesmente mostra uma face que o mundo insiste em negar. E o final, árido, não deixa esperanças nem oferece alternativas.

Obrigatório, faz jus à fama de clássico.

O Exorcista (EUA - 1973)



Título original: The Exorcist

Direção: William Friedkin

Elenco: Ellen Burstyn, Max von Sydow, Jason Miller, Lee J. Cobb

Prêmios: Oscars de roteiro adaptado e som


O Exorcista, baseado no best-seller de William Peter Blaty (que aliás, participa da produção do filme) e dirigido pelo então diretor-sensação William Friedkin (pela estréia oscarizada com o ótimo Conexão França), sempre foi um filme que me intrigou, despertando um legítimo interesse de desvendar o porquê daquela atração, desde a primeira vez em que o vi, quando criança, numa noite qualquer do SBT.

Evidentemente que, àquela época – eu devia ter, sei lá, uns 10-12 anos, em pré-adolescência de franco interesse por filmes de terror – eu não precisava de motivações mais fundamentadas do que o simples trinômio sustos-podreira-satanismo para conferir aquela película.

Cresci lendo, entre tantas outras coisas, a coleção inteira de Kripta (quem não conhece, corra atrás logo disso ou morra); portanto estava razoavelmente familiarizado com os meandros daquele estilo.

Porém, àquela primeira sessão, da qual lembro bem, sentado no sofá, tenso e ansioso, numa noite de meio de semana, sozinho, fui dormir um tanto decepcionado.

Sabe-se (pelo menos eu sei) que o segredo para o terror bem-sucedido é a verossimilhança: não acontece isso, não aconteceu, mas poderia ocorrer, pode existir, é plausível.

Portanto eu ficava com muito mais medo e receio (e as conversas com os colegas, igualmente amedrontados, na escola à segunda-feira seguinte) das matérias sobre exorcismo e satanismo do Fantástico, pois tinham a aura de realidade (embora eu saiba hoje que é tudo igualmente fajuto e sem fundamento, mas só hoje).

Pareceu-me um paradoxo: ao mesmo tempo a história era um tanto corrida (Iraque, profanação da igreja, padre triste, Satanás, exorcismo), sem muita ligação aparente, era tudo muito lento. Para quem não é profissional do terror, e/ou não tem maturidade suficiente no estilo, a história precisa de sustos e reviravoltas. E ali não havia cortes rápidos, nem música tensa de violinos, nada: apenas o ritmo lento dos filmes setentistas, tudo em close, explícito.

Tentei ler o livro, que há aqui em casa, e achei tudo muito obsceno: lia, não lia, tinha nojo, tinha excitação. Devo ter visto o filme em mais uma reprise, mas não me recordo.

Porém em 2000, quando ele estreou novamente nos cinemas, revisto, ampliado, remasterizado, etc., tive outra percepção. Já adulto, com 20 anos nas costas e tantos filmes visto, livros lidos e coisas vividas, pude compreender, na última sessão, à meia-noite de uma noite fria e nevoenta (verdade!) o impacto fascinante daquela obra.

Ainda que não obtivesse a resposta, a chave da compreensão definitiva, pude sentir, em meio à escuridão silenciosa, uma fagulha do impacto que O Exorcista deve ter causado quando da estréia.

Nunca antes, e nem depois, houve um filme tão aterrorizante, chocante, afrontador e desolador.

Ali eu já compreendia, havia muito, que sustos e reviravoltas com música alta são para suspensezinhos adolescentes moralistas com mulheres peitudas à la subprodutos de Sexta-Feira 13 e Pânico.

Terror de verdade – e isso eu aprendera com Os Pássaros, A Profecia, O Bebê De Rosemary, O Iluminado e Poltergeist, entre outros imortais – tem que ser duro como um bloco de concreto, sem concessões. Ritmo lento, de modo a deixa-lo tenso, preocupado, músculos enrijecidos na cadeira.

E o principal: além da plausibilidade (incluindo verossimilhança e personagens consistentes, aos quais possamos nos apegar e identificar), o segredo é o desalento, a sensação de que aquilo pode acontecer a qualquer momento, em qualquer lugar, de qualquer forma. A revelação, o lembrete sutil de que o mal existe e pode assumir variadas formas, e estamos sempre à mercê, de tão frágeis e desesperados que somos. Filmes para ficar pensando dias e dias.

Desde aquela noite, devo ter lido o livro mais uma vez e assistido ao filme mais umas quatro vezes, no mínimo, em ocasiões diversas (creio que todas com minha namorada). E é nítido e cristalino, para mim, que, a despeito das propagandas, e da condução do próprio romance original, o filme não é sobre o Demônio (seja Satã ou Pazuzu), sobre o exorcista ou sobre a vida em família: esses ingredientes complementam a trama, mas o cerne da questão é o padre Damien Karras.

Com uma inigualável expressão apreensiva o filme todo, ele parece carregar a vida como um fardo: entre cigarros e cervejas, caminha solitário pelas ruas claras e escuras.

Um ordinário mendigo pedindo esmola jocosamente, dizendo-se ex-coroinha, já desperta em Karras a sensação de quão tênue é a linha entre a virtude e o fracasso.

Ressentido pelo caminho escolhido, o padre (boxeador na juventude e psiquiatra por profissão) contesta tanto a própria vocação quanto o sentido da vida e a existência da felicidade.

Além disso, é atormentado por não conseguir sustentar a mãe doente com o voto de pobreza eclesiástico, e a deixa entre pardieiros na periferia e hospitais de quinta categoria, até que a pobre velha pobre morre.

Karras, amargurado, procura refúgio na razão: nega a presença satânica até os últimos momentos, procurando sempre o caminho psiquiátrico e investigativo. Triste, fragilizado e só, é um alvo fácil para as provações da vida e para as sarcásticas armadilhas que o Mal (não uma entidade, mas o constante revés inerente ao nosso viver) lhe impõe.

Quanto ao horror explícito, o qual ainda é impactante, pode-se dizer que, além de ser um divisor de águas (primeiro filme gore), é perturbador, extremamente perturbador. Quanto mais assisto, mais me impressiono, se não pelas blasfêmias e gosmas, pela angústia e sensação de impotência, de desamparo, a que o filme nos leva.

Turistas (EUA - 2006)



Título original: Touristas (mesmo)
Direção: John Stockwell
Elenco: cri.. cri... cri...

Eu sabia que seria ruim, como meu irmão havia me advertido, porém tinha certeza de que me divertiria. E foi o que aconteceu – o filme é tão tosco e surreal que é invariavelmente engraçado. Esqueça toda aquela melindragem da mídia brasileira, da Embratur e de outros babacas: é um filme ruim de terror porque é um filme ruim de terror, independentemente de denegrir ou não nosso Brasil varonil.

É ruim porque segue o que há de pior no subgênero de terror slasher: na primeira hora do filme não acontece nada, apenas somos apresentados aos personagens, babacas e tão estereotipados que você mal consegue distingui-los e nem sente falta quando um dele é morto – às vezes você até torce para que determinado babaca seja estripado logo e pare de estorvar; o roteiro tem mais buracos que um chocolate aerado, com erros de continuidade (não dá pra saber nem em que lugar do Brasil exatamente eles estão), de lógica (brasileiro que começa falando inglês de Tarzan e termina o filme quase um nativo ianque, vilão caricato com falas clichê que mata um comparsa sem quê nem por quê) e sequer consegue chocar [ainda que bem feitinho, com uma produção correta, as cenas de suspense e horror são pífias e tudo ainda culmina numa perseguição chatíssima sob a água (!)].

[Aliás brasileiro precisa se decidir se tem orgulho só em época de Copa, Olimpíada, filme ruim e episódio d'Os Simpsons, está ficando ridículo. Nossos patrícios ficam o ano inteiro falando mal dos conterrâneos, do país, da situação, dos políticos, do tal “espírito malandro” – mas, num arroubo de “do meu país só eu posso falar mal”, surge da tumba esse patriotismo bobo e essa indignação torpe à movimento “Cansei”. Você viu algum australiano reclamando de Wolf Creek ou dos rednecks americanos protestanto contra todos os filmes em que aparecem como jecas psicóticos racistas, desde Amargo Pesadelo e Texas Chainsaw Massacre, nos 1970s?]

Quanto ao Brasil mostrado no filme: olha, exceto pelo tráfico de órgãos (do qual nada sei, mas, vai saber, né), é mais ou menos aquilo mesmo. As mulheres daqui estão sempre de graça pros gringos, quando você precisa de polícia na “quebrada”, nunca consegue ajuda, os motoristas de ônibus cariocas correm demais e são imprudentes, os gringos são bobos, se entopem de caipirinha e levam golpe de prostitutas, coisas assim. Nada grave. Mas ainda prefiro a jibóia engolindo o Bart n’Os Simpsons.

Enfim vale para dar risadas, especialmente pelo final, no qual toca uma música hilariante (durante o filme rola pancadão carioca e Marcelo D2).

Mr. Vingança (Coréia do Sul - 2002)



Título original: Boksuneun Naui Geot/ Sympathy For Mr. Vengeance
Direção: Chan-wook Park
Elenco: ninguém relevante

"Eu sei que você é uma boa pessoa... por isso sabe que te tenho que te matar, não sabe?"

Em 2007, com atraso de cinco anos, o que mostra, mais uma vez, o amadorismo das distribuidoras brasileiras, Mr. Vingança, primeira parte da trilogia sobre vingança do diretor sul-coreano Chan-wook Park (os seguintes são Oldboy e Lady Vingança), foi lançada por aqui.

Este é o filme mais cru, chocante e angustiante da série. E não é pouco para um tríptico cheio de sessões de tortura, vendettas impiedosas e lutas sangrentas, tudo com poucos e inesquecíveis diálogos, trilhas arrebatadoras e imagens deslumbrantes.

O minimalismo (diálogos e canções esparsas) se une ao preciocismo (planos-seqüência meticulosamente engendrados) para construir uma obra deprimente e trágica.

Dois "Senhores Vingança" dividem o filme nos destinos que se cruzam. Ninguém é culpado, ninguém é inocente. Ambos são boas pessoas que, vítimas das mudanças, acabam se opondo um ao outro por não conseguirem lidar com a perda do que têm de mais importante na vida.

Mais que as intensas seqüências de tortura, facadas, profanação de cadáveres e assassinatos, o que mais deprime no filme, como nos dois seguintes da série (que tratam do mesmo tem, mas não têm relação direta entre si), é o final inexorável, porém imprevisível.

Não vou adiantar sobre a trama, pois as surpresas acontecem durante todo o filme. Saiba apenas que é um filme muito forte (o mais forte que já vi), que vai te fazer mal pela história; porém a trilogia inteira é obrigatória para cinéfilos.

Você vai pensar como o destino (contingências + escolhas) pode levar pessoas ingênuas e boas a fazer coisas horríveis. Esta é a história da humanidade.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O segredo de seus olhos (Argentina - 2009)




Título Original: El Secreto de Sus Ojos
Direção: Juan José Campanella
Elenco: Ricardo Darín, Soledad Villamil, Guillermo Francella
Prêmios: Oscar de melhor filme estrangeiro 2010

Enfim consegui assistir ao comentadíssimo "O segredo de seus olhos", filme argentino vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro neste ano. Mais uma vez ressalto que não sou crítica de cinema e por isso levo o texto a um tom mais pessoal.

O foco da trama está em Espósito, um oficial de justiça aposentando que passou os últimos 25 anos de sua vida assombrado por um caso de assassinato e estupro ocorrido na década de 1970 e, por esse motivo, pretende escrever um romance baseado nos fatos ocorridos na época. A tentativa de organizar os acontecimentos de forma a compreender como eles influenciaram sua vida: envolve paixões, ideologias, justiça e uma lacuna a qual Espósito tenta preencher a todo custo durante as duas horas de filme.

A certa altura de "O segredo de seus olhos", o marido da vítima, que acaba por criar uma relação de confiança com Espósito, revela que não queria a pena de morte para o assassino de sua mulher, preferindo a prisão perpétua para ter certeza de que ele teria uma vida inteira vazia. A idéia de vida vazia se torna uma das chaves da trama, já que podemos concluir que todos os personagens viveram 25 anos vazios, assim como o marido previra para o assassino de sua esposa.

Ao resgatar seu passado, Espósito se vê novamente diante de sua antiga paixão e chefe, a promotora Irene, o que o leva a resgatar outro ponto de sua história, o caso de amor correspondido, mas não concretizado, que obviamente levaria qualquer um a pensar se sua vida vazia poderia ter sido de outra forma.

Ainda que repleto de personagens ricos que, diga-se de passagem, poderiam ser mais desenvolvidos, o charme do filme está nos pequenos detalhes como a letra A que falta na máquina de escrever, olhares em fotografias, a mania de trancar ou não a porta de Irene, um retrato virado para baixo e um adeus que não aconteceria na realidade. Destaque para o personagem Pablo Sandoval, inseparável parceiro de Espósito, alcoolatra e responsável pelas cenas cômicas e também pelos diálogos mais profundos do filme, interpretado por Guilhermo Francella de forma sublime.

Memorável.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Abraços Partidos (Espanha - 2009)

Título Original: Los abrazos rotos
Direção: Pedro Almodóvar
Elenco: Penélope Cruz, Lluís Homar, Blanca Portillo, José Luis Gómez, Tamar Novas, Rúben Ochandiano, Lola Dueñas


É certo que Penélope Cruz e Pedro Almodóvar nasceram um para o outro. Em "Abraços Partidos" isso fica evidente, pois o filme não teria razão de existir sem a musa Lena, interpretada por Penélope de forma envolvente, como sempre.

A trama central do filme gira em torno de um cineasta que, após perder a visão, assume o pseudônimo Harry Caine, se dedicando a escrever roteiros. Seu passado vem à tona quando um famoso empresário morre e seu filho o procura para escrever um roteiro sobre a mágoa que guarda do pai. O passado em questão é o último filme do cineasta, ainda como Mateo Blanco, que teve como sua protagonista Lena, amante do empresário que obsessivamente resolveu produzir o filme e encarregou seu filho de filmar Lena durante toda a filmagem.

De fato, Almodóvar criou Lena para que Penélope Cruz pudesse brilhar, pois todas suas cenas foram feitas para fascinar e mostrar o fascínio que uma mulher pode causar (algo típico de Almodóvar). Ela brinca com a câmera, brilha chorando, fumando, como Marylin ou Audrey Hepburn. É uma mulher real que encanta e ponto. Assim é o personagem criado para Penélope, por ser Penélope, e não é a toa que o cineasta se apaixona pela atriz e por sua imagem.

Penélope ama as câmeras. As câmeras amam Penélope. Isso resume tudo.

Sacco e Vanzetti (Itália - 1971)


Título Original: Sacco e Vanzetti
Direção: Giuliano Montaldo
Elenco: Riccardo Cucciolla e Gian Maria Volonté
Premios: Melhor ator em Cannes (Riccardo Cucciolla)

Com trilha sonora de Ennio Morricone e Joan Baez, o filme narra um dos maiores erros judiciais da história, quando nos Estados Unidos da década de 1920, os italianos e anarquistas Sacco e Vanzetti são acusados de roubo e homícidio. O filme não se apronfuda na vida dos dois acusados, mantendo o foco no julgamento absurdo, no complô e na injustiça que causou grande repercussão política.

Curiosidades:

domingo, 5 de setembro de 2010

Todo-Poderoso: O filme (2010)



"O Corinthians é uma república dentro da cidade de São Paulo... ali tem um povo, com outra linguagem, outro idioma, outro governo, outros comportamentos, outra religião" (Casagrande)

Logo nos primeiros minutos do filme precisei pausar o DVD para perguntar pelo Twitter o porquê de algumas (poucas) pessoas torcerem por outros times que não o Corinthians.

Na semana do Centenário do Corinthians, o Fábio Vanzo e eu resolvemos assistir ao filme com uma garrafa de espumante em tom de comemoração, mas é claro que não ficou só nisso. Quando se fala do amor pelo Corinthians a coisa sempre acaba transbordando e as lágrimas, os suspiros e os sorrisos são inevitáveis.

Neste terceiro filme sobre o Corinthians, a narrativa se desenvolve em torno dos 100 anos de história do clube, o que se torna um grande empecilho já que, torcedores de outros times devem concordar, o Corinthians é o time com as histórias mais ricas deste país. Nos anteriores “Fiel” e “23 anos em 7 segundos”, que abordaram respectivamente a queda do time para a série B em 2007 e o famoso jejum de títulos corinthianos que teve fim em 1977, os temas puderam ser desenvolvidos com toda a profundidade e complexidade que o amor incondicional pelo “time do povo” precisa para ser compreendido ou ao menos explicado. É claro que em “Todo-Poderoso” não faltam momentos de emoção e para todo corinthiano ver a encenação da fundação do clube no marco-zero no Bom Retiro ou as primeiras imagens do time em ação e ouvir as histórias clássicas contada pelos seus próprios protagonistas é de tirar o fôlego, mas faltou tempo, afinal, 100 anos de Corinthians não é algo que não se explica em pouco mais de uma hora e meia de filme.

Nos extras do DVD um depoimento da Marília Gabriela explica de forma clara, como só ela poderia fazer, a importância da “Democracia Corinthiana” e, inclusive, ela admite que não se importava com futebol antes disso, pois naquele momento ela viu o futebol fazendo a diferença na história do país e que aquele era o tipo de exemplo que ela tentava passar aos seus filhos. Também nos extras, Casagrande conta que sofria batidas policiais diariamente na época e que foi preso um dia após a final do campeonato paulista de 2002. Como explicar o maior, talvez único, movimento ideológico ocorrido na história do futebol? Ou como não se emocionar com um jogador de futebol (Sócrates, O Pensador Da Bola) em um palanque jurando se manter no país caso a emenda Dante de oliveira (Diretas Já) fosse aprovada?

No filme os títulos são relatados de forma tão rápida que cheguei a pensar que o Brasileiro de 2005 fora esquecido, mas não foi isso. O que explica o amor do corinthiano não são os títulos e sim a paixão. E por isso a fila, a invasão, a fundação e a queda têm mais valor para a narrativa que pretende explicar esse amor. Amor comparado ao amor de mãe por uma torcedora, pelo amor ao marido por outra e definido de forma simples como “o maior amor do mundo”.

Em resumo, “Todo-Poderoso: O filme” não é um grande filme, mas é essencial e é “Curintia, porra!”


Mais: Nas próximas semanas será lançado o filme do São Paulo, “Soberano”. O foco será os inéditos seis títulos brasileiros do clube e isso demonstra a forte diferença entre os corinthianos e são-paulinos. Em outras palavras, diferentemente de outros times, o corinthiano não precisa de títulos para ser corinthiano.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

A Mosca (1986)



Título original: The Fly
Direção: David Cronenberg
Elenco: Jeff Goldblum, Geena Davis, John Getz
Prêmios: Oscar de maquiagem

David Cronenberg é doente, costumo brincar. Desde sua estréia ainda no Canadá, com Calafrios (Shivers - 1975), passando por Filhos Do Medo (The Brood - 1979), até Scanners (1981) e Videodrome (1983).

Incesto, perversão sexual, demência, meandros ocultos da mente, nada é tabu para ele. Em seus filmes se espalham vírus da libido, snuff movies, cabeças que explodem, moscas gigantes, crianças deformadas, taras sexuais por acidentes de carro... Cronenberg sempre foi fundo no que há de mais perverso, brutal e primitivo na humanidade.

Seus filmes, até mesmo os mais, digamos, “convencionais” (se é que pode se dizer isso), como Gêmeos: Mórbida Semelhança (1988), Spider (2002) e Marcas Da Violência (2005) trazem questionamentos e perturbações que nem a produção esmerada e a falta de gore conseguem disfarçar.

Este A Mosca, refilmagem d’A Mosca De Cabeça Branca (EUA – 1958), é certamente seu filme mais pop. Pena que o sucesso se deva mais às cenas explícitas de podreira do que do talento do diretor em conduzir, mesmo com atores pífios, uma narrativa curta e direta de cunho melancólico, cheio de filosofia.

Um cientista, testando uma máquina de teletransporte, resolve, após usar animais, experimentá-la consigo. O processo é bem-sucedido, exceto pelo fato de uma mosca entrar junto na cabine. Com isso se desencadeia uma mutação que vai amalgamando as duas criaturas, transformando-o num monstruoso inseto.

Seu comportamento é o que muda primeiro, e, logo, delírios de grandeza vão nos conduzindo, entre uma cena splatter e outra, a uma tensa e triste viagem à nossa condição de animal, de homem, de além-do-homem. Nietzsche nunca foi tão grotesco.

Curiosidade: o fime original inspirou um desenho da Pantera-Cor-De-Rosa em que, no futuro, ela tenta teletransporte, uma abelha entra junto e ambos ficam, digamos, meio-a-meio. Um clássico. Alguém lembra? Está aqui, uma jóia de 1975.

Divã (Brasil - 2009)


Direção: José Alvarenga Jr.
Elenco: Lília Cabral, José Mayer, Alexandra Richter, Reynaldo Gianecchini, Cauã Reymond, Paulo Gustavo, Elias Gleizer

Não gosto de filmes-globo. Acho legal que existam, visto que movimentam mais nossa indústria cinematográfica do que os metidos a nouvelle vague, mas não curto. Só tem ator de novela, história de novela, cenografia de novela, enquadramentos de câmera de novela. São folhetins condensados. Mas este Divã me surpreendeu. Além da MILF de respeito e boa atriz Lilia Cabral, o filme surpreende por fazer de uma história banal (senhora casada, com dois filhos, professora, pintora nas horas vagas, que decide fazer análise) um belo tratado sobre a meia-idade, sobre sonhos e inadequação, com takes ousados e criatividade tanto narrativa quanto no equilíbrio entre humor e drama. Vale a pena conferir para se lembrar que todo mundo é ordinário e, ao mesmo tempo, especial.